Você já ouviu falar em amor obsessivo? Uma pessoa que é obsessiva amorosamente pela outra sente como se a ausência da pessoa amada a tornasse incapaz de viver. A pessoa não consegue parar de pensar na outra. Arrisca deixar trabalho, parar o estudo, sair de casa, mudar de país e até mesmo abandonar outros sonhos de vida para ir atrás de quem ama obsessivamente. O desejo de estar com a pessoa e o desespero de não estar com ela é tanto que se aproxima de uma dor física. A pessoa obsessiva pode escrever páginas e mais páginas sobre quem ama, telefonar para essa pessoa muitas vezes no dia, e se sentir totalmente abandonada ou descartada quando a outra pessoa não corresponde de forma exatamente igual à sua atitude ou expectativa. Por mais que a outra pessoa, objeto de amor da pessoa obsessiva, deixe claro que não deseja o relacionamento, geralmente a obsessão faz com que ela não enxergue isto e continue agindo de modo a chamar a atenção do outro, e chegando até mesmo a se tornar agressiva e ameaçadora com quem diz amar.
Normalmente, pessoas obsessivas por outras tendem a ter a percepção de que estão ligadas à outra pessoa, a quem dizem amar, “pelo destino” e estão convencidas de que o seu objetivo de vida é superar a resistência da pessoa amada porque acreditam que, no fundo, ela deseja isto. No entanto, esta é uma percepção doentia.
Na verdade, o sentimento que uma pessoa obsessiva tem pela outra, apesar de ser chamado de “amor obsessivo”, não é amor. É um distúrbio psíquico, emocional que é chamado de “erotomania”, que é justamente a fixação obsessiva que uma pessoa desenvolve por outra. O psicólogo Reid Meloy, da Universidade da Califórnia em San Diego, e a antropóloga Helen Fischer, da Universidade Rutgers em New Jersey, descobriram em 2005 alterações relevantes na química cerebral destas pessoas que sofrem com este amor obsessivo. Há um excesso da produção de dopamina no cérebro dos amantes obsessivos. A dopamina é o combustível principal para a motivação. Segundo a pesquisadora, além de estas pessoas terem, claro, questões emocionais não resolvidas, do ponto de vista fisiológico, quando o objeto do desejo aparece a produção de dopamina é tanta que quando ele desaparece (quando a pessoa vai embora ou não quer mais contato, ou permanece distante) é reforçada a atividade da dopamina nesses circuitos cerebrais que geram a sensação de admiração intensa, em vez da produção diminuir, a pessoa se sentir naturalmente triste com a distância e tomar outros rumos para a vida, aceitando a impossibilidade do relacionamento idealizado.
Geralmente as vítimas do amor obsessivo sofrem muito com esta fixação da pessoa obsessiva. Elas são importunadas ou ameaçadas em vários locais da rotina diária (supermercados, academia, trabalho, em casa); muitas mandam instalar fechaduras mais seguras, mudam seu número de telefone e restringem o contato com outras pessoas a fim de evitarem, ao máximo, se expor a um contato com a pessoa obsessiva. Muitos se afastam até mesmo da família, dos amigos, mudam de casa, de cidade, pedem demissão do emprego e possuem muita dificuldade em manter novos relacionamentos por causa da constante intromissão da pessoa obsessiva.
Para pessoas que são vítimas do amor obsessivo de outra pessoa, a orientação é que busquem uma ajuda psicológica e que façam um boletim de ocorrência a fim de ser estabelecida uma proibição de aproximação e contato.
E, para pessoa que se encaixam nesta situação, é importante que procurem uma ajuda psicológica para o início de um tratamento psicoterápico. Isso somente costuma ser difícil porque em geral estas pessoas não aceitam que sua percepção esteja errada. Mas, se tiverem o mínimo de percepção, devem buscar esta ajuda de imediato. Através da compreensão do porquê ela age assim e da ajuda no sentido de aprender a agir de outra maneira diante destas questões emocionais, é possível controlar estas atitudes obsessivas.
Escrito por Thais Souza, psicóloga clínica, pós-graduada em aconselhamento familiar.