Em qualquer relacionamento conjugal, duas coisas devem existir: a individualidade de cada um e a conjugalidade do casal. A individualidade envolve a manutenção de preferências e costumes que não firam com o compromisso conjugal. São, por exemplo, esportes preferidos, atividades de lazer preferidas (enquanto um gosta de ler, o outro prefere sair para dar uma volta no shopping), comidas preferidas, e amizades de longa data ou que vão surgindo ao longo da vida. E, a conjugalidade significa a identidade do casal, ou seja, aquilo que o casal vai construindo juntos e fazendo juntos para o desenvolvimento do próprio relacionamento e aumento da intimidade afetiva entre o casal.
Alguns casais anulam a individualidade do outro e/ou de si mesmo com a ideia de que uma vez casados, é preciso fazer tudo junto e sempre, o que é prejudicial porque como são duas pessoas diferentes, por mais que tenham muitas afinidades, também possuem preferências individuais que, se anuladas constantemente, em algum momento da vida causarão angústia por ter passado por cima de si mesmo, raiva do casamento ou ressentimento do cônjuge por não ter dado o espaço para que o outro mantivesse, também, sua individualidade.
E, há casais que, ao contrário, vivem como se fossem dois solteiros que dividem a mesma casa, continuando a viver suas individualidades como prioridade na vida, sem abrirem mão de algumas coisas para o desenvolvimento da conjugalidade, que é a identidade do casal.
É importante que o casal não se feche só em si mesmo e que tenham amizades fora do casamento. É importante que o casal tenha amigos em comum e que também tenham suas amizades mantidas além do casamento, contanto que estas amizades não sejam prioridade em detrimento do casamento.
O grande perigo de se manter amizades profundas com pessoas do sexo oposto estando casado (a) é que a amizade que deveria ser desenvolvida entre o casal, a cumplicidade que marido e mulher devem desenvolver ao falarem sobre seus sonhos, desejo, medos, preocupações, e os momentos de descontração que são importantes para que o casal não se relacione apenas quando precisam resolver assuntos da casa ou problemas, podem ser desenvolvidas com esta outra pessoa, com este amigo (no caso, da esposa) ou amiga (do marido), em vez do próprio casal. E quando os cônjuges perdem a amizade entre si e vivem apenas se relacionando sexualmente, ou resolvendo os problemas do dia a dia, ou apenas com o status de “meu marido” e “minha esposa”, sem um envolvimento de amizade além disso tudo, a tendência é que a intimidade e a cumplicidade do casal se percam e, portanto, eles se afastem afetivamente um do outro.
Somos mais íntimos das pessoas com quem trocamos ideias, com quem temos momentos descontraídos, com quem contamos nossos desejos e preocupações, que são nossos confidentes. Então, se este papel de confidente fica sendo do melhor amigo da esposa ou da melhor amiga do marido, facilmente haverá um envolvimento afetivo, podendo prejudicar o relacionamento conjugal entre o casal.
Isto não significa que o casal não possa ter amizades com o sexo oposto, mas que estas amizades não devem ter cumplicidade maior do que a do próprio casal.
Escrito por Thais Souza, psicóloga clínica, pós-graduada em aconselhamento familiar.