“Ele (a) não merece o meu perdão!”. Você já teve este pensamento ao se sentir ferido (a) por alguém? Muitas vezes o perdão nos parece impossível! Geralmente associamos o ato de perdoar a um favor que fazemos a quem nos machucou. No entanto, perdão tem mais a ver com algo que fazemos por nós mesmos do que pelo outro. Quando conseguimos perdoar alguém por algo doloroso que cometeu contra nós, estamos, na verdade, dando a nós mesmos a chance de sermos felizes novamente, em vez de vivermos tentando fazer justiça, ou nos vitimizando quanto ao que sofremos. Como perdoar?
Em primeiro lugar, temos que entender o que NÃO é perdão:
- Perdoar não é desculpar o que o outro fez, ou seja, não é passar a aceitar o que o outro fez como algo correto.
- Perdoar não é nunca mais se lembrar do que aconteceu. É conseguir se lembrar sem continuar alimentando sentimentos de raiva, tristeza ou revanche.
- Perdoar não significa que você tenha que dizer para a pessoa que te magoou que você a perdoou.
- Perdoar não significa que você nunca mais terá nenhum sentimento negativo a respeito do que aconteceu.
- Perdoar não é aceitar o relacionamento da maneira como está e esquecer ou abrir mão do que gostaria ou deveria ser mudado.
- Perdoar não significa que você terá que continuar a ter o mesmo tipo de relacionamento com a pessoa que machucou você.
- Perdoar não é uma atitude de pessoas fracas; pelo contrário: exige maturidade e coragem.
- Perdoar não é algo que você faz para a outra pessoa.
Como, então, perdoar?
1. Para que você consiga perdoar, você terá que se permitir pensar e sentir sobre o que aconteceu, sem “colocar para baixo do tapete” os seus sentimentos e fingir que está tudo bem. Para que qualquer recuperação emocional seja possível, é necessário experimentar a dor e deixar que ela saia. Por isso, se ainda não sentiu a tristeza ou raiva ou frustração e se ainda não se deu a oportunidade de pensar em como isto afetou você, separe um tempo e, sozinho (a), faça isto. Se vier o choro, chore. Se vier a raiva, sinta a raiva. Se tiver vontade de falar “poucas e boas” para quem feriu você, escreva o que gostaria de falar.
2. Avalie no que você cresceu ao passar por este sofrimento. O que você aprendeu com isto? Quais limites você identificou que precisa colocar para outras pessoas? O que você aprendeu sobre você mesmo (a), apesar da dor?
3. Entenda que você tem uma escolha: continuar se colocando como vítima da situação e lamentando quanto ao que fizeram contra você, ou se posicionar como o (a) responsável pela sua própria felicidade e por aprender e se recuperar.
4. Pense em quais dificuldades pessoais esta pessoa que machucou você tem e que podem ter colaborado para que ela tenha agido desta forma (impulsividade, insegurança, descontrole emocional, etc), não como uma maneira de “colocar panos quentes” no que ela fez, mas para que fique mais claro para você que não dependerá de você a mudança do comportamento desta pessoa, mas da capacidade dela mesma de olhar para si, se conscientizar de suas dificuldades e querer/estar pronta para mudar. Quando conseguimos pensar e olhar com “piedade” para quem nos machucou, o perdão se torna mais fácil. “Piedade” não significa tirar a culpa dela e nem achá-la “coitadinha”, mas entender que ela mesma tem dificuldades pessoais que a atrapalham em sua vida pessoal e interpessoal e que uma mudança vai depender única e exclusivamente dela.
5. Após pensar e experimentar seus próprios sentimentos e avaliar o comportamento do outro, você terá outra escolha a fazer. Você possivelmente não terá controle sobre a lembrança que vier à sua mente quanto ao que aconteceu, mas poderá decidir o que fazer com ela quando ela vier: você terá a opção de continuar pensando, alimentando ressentimentos, desmembrando as memórias, planejando uma revanche, e se vitimizando, ou você poderá decidir não alimentar este sentimento e “cortá-lo”, lembrando a si mesmo (a) que você já pensou o suficiente sobre isto e já sentiu o que seria natural de sentir diante desta situação e que, agora, escolherá focar sua atenção e suas energias em outras coisas sem ser alimentar esta lembrança, e realmente faça isto.
6. Ao final, decida o que você deseja fazer com a sua escolha de perdoar: prefere guardar consigo ou verbalizar à outra pessoa? O motivo de escolher guardar consigo não deve ser o orgulho, mas porque em determinados relacionamentos, um novo encontro poderia envolver mais atitudes desrespeitosas, abusos, etc, e você tem o direito de se proteger contra isto.
O perdão é uma atitude que possibilita quem perdoa a decidir colocar um ponto final naquilo que a machucou. Qual é a sua decisão?
Escrito por Thais Souza, psicóloga clínica e pós-graduada em aconselhamento familiar.