Durante todos os anos de infância e adolescência dos filhos, os pais estão envolvidos com o desenvolvimento deles. Quando pequenos, são ensinados a falar, a caminhar, a amarrar o cadarço do tênis, a escrever, a se relacionar com amigos, a ir sozinho para a escola. Mais tarde, os pais dão orientações quanto às saídas, quanto a namoros, ensinam a dirigir, e todos estes ensinamentos caminham para um objetivo: o desenvolvimento da capacidade dos filhos de serem independentes e aprenderem a viver a vida. E isso vai acontecendo, até que os filhos crescem e realmente se tornam independentes, construindo suas próprias vidas, profissões, casamentos, e saem de casa.
Nesse momento, alguns sentimentos podem invadir a vida dos pais: eles podem sentir certa angústia por não terem mais talvez a principal ou uma das principais atividades da sua vida, que era cuidar dos filhos; podem experimentar um sentimento de inutilidade porque antes eram envolvidos em levar um filho em um lugar, buscar o outro, resolver assuntos escolares, tinham a quem pedir ajuda para tarefas da casa, e agora estas responsabilidades já não existem. Podem sentir, também, solidão e sensação de vazio: antes havia barulho na casa, os filhos estavam ali para conversar, recebiam seus amigos de escola ou faculdade, e agora a casa está silenciosa. E o próprio casal – os pais – pode ter perdido o sentido da comunicação entre si com foco em outros assuntos que não sejam os filhos. Podem ter passado os últimos anos se comunicando apenas para resolverem questões dos filhos e nem saberem mais sobre o que conversar um com o outro.
Afinal de contas, o objetivo inicial não era ensinar o filho a ser independente? Sim; mas nem sempre se prepararam para isto.
O que podem fazer, então, para superar a síndrome do ninho vazio? Algumas atitudes podem ajudar:
- O casal pode renovar a intimidade que costumavam ter. Isto é mais difícil para aqueles que passaram todos esses anos sem alimentarem este relacionamento conjugal, ficando apenas com o papel de pai e de mãe, mas se tiverem dispostos a isto, podem voltar a sair juntos, a viajarem somente os dois, a conversarem sobre questões pessoais, a terem hobbies em comum, a fim de estreitarem este relacionamento.
- Além disso, é importante que cada um tenha atividades que sejam prazerosas para si mesmos. E, se não possuem, podem aproveitar o tempo agora para desenvolverem. Pode ser um esporte, uma costura, uma aula de música, e até mesmo marcar um encontro com amigos de infância para que voltem a ter uma vida social saudável e que preencha um pouco do vazio que ficou.
- O casal ou a própria pessoa pode se envolver, também, em projetos sociais na igreja onde congrega ou na comunidade a fim de ter uma atividade que os façam se sentir úteis.
- Alguns casais também se inscrevem em intercâmbios estudantis, abrindo sua casa para receberem estudantes. Pode ser gratificante saber que está ajudando uma pessoa jovem em uma nova experiência.
- Se a tristeza predominar pela saudade dos filhos, mude sua atenção para a oportunidade que eles estão tendo de aprender a cuidar da própria vida.
É possível superar o ninho vazio. E, além de tudo, vale lembrar que a saída do filho não significa o rompimento do laço afetivo entre pais e filhos. Modifica, sim, o relacionamento por conta das novas circunstâncias nas quais os filhos acabam se inserindo – profissões, casamento, mudanças de cidade – mas jamais termina com o amor de um para com o outro.
Escrito por Thais Souza, psicóloga clínica, pós-graduada em aconselhamento familiar.